quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ter uma Terra


Gorilas não são nômades e na escala evolutiva, isso nós aprendemos com eles... Ou será que não? Quantos homens migram de um lugar infértil, ou da sua casa para as cidades em busca de alimento, de qualidade de vida e de dinheiro?

Vivemos em uma sociedade que anseia pelo turismo, e não é o turismo de ideias filosóficas, biológicas, mas o turismo de bens materiais. Viajamos quilômetros para comprar utensílios que nunca vamos usar, vendemos aquilo que não nos serve mais. Somos comprados por folders vermelhos e amarelos e somos vendidos a preço de banana.


Um “primata primitivo” que se preze não come e destrói seus cupinzeiros, ele os cultiva. A agicultura e a pecuária é o que nos separa desses primos distantes, mas não uma agricultura predatória. Nossa agricultura tem que ser rotacionada, devemos plantar diversos tipos de hortaliças e frutas no mesmo local, comer diversos tipos de cupins, formigas, térmites ou o que for mais saudável, claro.Por que não temos então uma terra privada, particular? Simples, alguém quer ter uma Terra maior do que a nossa, ser um único macho dominante no mundo inteiro, ou ao menos tentar ser. Pena, de todas as façanhas, uma que um homem nunca conseguiu foi dominar o mundo, mas em termo de infestação, nós, homo-sapiens-sapiens, já o fazemos tem um bom tempo, em menor número do que os vírus, as baratas e as formigas, e etcs, mas mais do que qualquer organismo de esqueleto complexo (se não fui o suficientemente direto para entender esse conceito, basta depreciar a densidade demográfica das grandes metrópoles).


Afinal, é isso que nos torna evoluídos? Sobreviver a qualquer mudança climática, saber o que usar para se adaptar as situações extremas, reproduzir em escala astronômica e comprar lotes na Lua? Não, baratas também sobrevivem a situações bem mais adversas que nós e, no entanto, não tem muita consciência, que não a instintiva. Nós podemos, no limite, comer essas baratas sem muita dificuldade e até sentirmos bem depois dessa ilustre refeição. Por que então, não o fazemos, por que não usemos elas de adubo? Simplesmente incineramos essa enorme quantidade de açúcares no ar? Poderíamos fazer até bebidas alcoólicas (pros mais fanáticos). Os mais afoitos sugerem deixar isso de lado, tudo bem, não sejamos tão sangue de barata, mas finjamos que somos como elas...

Devoraríamos tudo, até o final, mudaríamos, encontraríamos mais comida... Mudaríamos, etcs, etcs... Comportamento nômade, claro! Todavia, e se fôssemos nômades mas deixássemos árvores suficientes para a próxima geração de frutos ou se comessêmos outro tipo de proteína enquanto essas frutas crescem?


De fato, executaríamos pequenas migrações, mas seria compensador voltar e ver o que se plantou ou o que nasceu inesperadamente. Seria bom ver uma terra mais fértil e não um pasto comprimido e ralo, que impede qualquer outra forma de vida de vingar.

Será bom ver que outros animais passaram por ali também (animais que vamos comer só parte também), e não serão frutos da mesma massa que intensivamente damos a eles de comer, mas que talvez só uma pequena parte deles será um composto do que comemos enquanto o resto virá de outros lugares também, de certa forma, reduzirão nossa vida de ambulante... Estamos realmente no topo da cadeia, somos onívoros (por definição) pouco eficientes, variamos muito pouco o cardápio e uma boa dieta, é também uma dieta variada.


Tornemos ao problema agrário: as grandes questões dos sem-terra, dos famélicos em geral, é a falta de variação nas sementes e de local para cultivo e a resposta, infelizmente (já que não é aplicada), não é a falta de comida ou de terras, mas a falta de vergonha na cara de quem produz essa comida e dá os mais toscos compostos pro seu gado, pra suas plantas altamente selecionadas, todos cansados da mesma terra e dos mesmos nutrientes (todos iguais, com um gosto não muito diversificado, e composição também!).


Antes de sair do topo da pirâmide temos que descer, um pouco, ao menos, afim de evitar uma queda maior. Prefere barata frita ou tostada? Tente usar fogo, uma lupa firme a luz do Sol, bombas atômicas não fazem muito efeito, se elas caírem elas até voam, mas nós dificilmente nos safaremos, e não adianta subir nas árvores, e será dificil correr até as montanhas, o jeito é cavar cada vez mais fundo.

Texto e Arte: Mateus Portugal

Um comentário:

  1. eu acho que somos mais baratas ou escorpiões do que imaginamos, digo eu acho por que sempre suspeito da nossa pretensa humanidade, como disse Michel Montaigne: "Os selvagens somos nós."

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